14°FEIRA DO ESTUDANTE 2011

14°FEIRA DO ESTUDANTE 2011
LUCIA GAMBARINI

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

“Profissão Pedagogo”

O Docente Ruy Gavião Teixeira de Mendonça Expõe Com Um Olhar Crítico e Observador Sua Experiência


Engenheiro Mecânico pela Universidade Mackenzie. Pós-graduado em Administração de Empresas pela FASP - Faculdades Associadas de São
 Paulo e pela Universidade Mackenzie. MBA em Gestão do Processo Ensino-Aprendizagem no Ensino Superior, pelo CEINTER - Centro de Educação Tecnológica Interamericano.
Trabalhou por vinte e dois anos na IBM Brasil, como Analista de Sistemas e como Gerente de diversas áreas.
Professor universitário desde 1980, lecionando disciplinas na área de Informática. Professor das Faculdades Sumaré desde 2006.
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1 – Qual é o seu maior desafio na Faculdade Sumaré? E qual  a sua estratégica em relação a esse desafio? 
Creio que é achar uma maneira de me certificar de que o conhecimento, a experiência, estejam sendo transmitidas da melhor maneira possível. Isso é difícil, muito difícil mesmo. Há várias causas para isso, como por exemplo:
Classes com alunos de perfil diferente, desde aqueles para os quais o teor da disciplina é uma completa novidade até os que já têm conhecimento prévio;
Diferenças de maturidade e até mesmo de interesse;
Falta de conhecimento básico, elementar mesmo, de parte das classes com relação a matérias como português e matemática;
Algumas classes com número excessivo de alunos, principalmente em laboratório de informática.
Entre as estratégias possíveis, pode-se tentar, entre outras:
Conscientização dos alunos sobre a importância do seu envolvimento com a disciplina;
Incentivar os alunos que tenham algum tipo de dúvida a expô-las ao professor. Muitas vezes, a dúvida de um é a mesma de vários outros;
Não deixar de responder a emails contendo dúvidas.
2 – Foi difícil você chegar até aqui?
Especificamente para mim, não, pois fui convidado a lecionar na Faculdade Sumaré, há quatro anos e meio, pelo professor José Carlos Vitorino (que até hoje é Coordenador Pedagógico dos cursos de Tecnologia da Informação), com quem já havia trabalhado por vários anos, em outras instituições de ensino. O desafio é continuar sempre a corresponder às expectativas em mim depositadas...
3 – No geral quais são as dificuldades dos alunos que é comum de semestre para semestre?
Creio que são:
O problema já citado acima, que é a falta de preparo básico, por parte razoável dos alunos, em matérias do ensino médio;
Pouco conhecimento, principalmente nos dois ou três primeiros semestres, dos softwares de apoio da Sumaré, que são o Aluno On Line e o Moodle;
Há inúmeros casos de dificuldades de locomoção, seja da casa ou do local de trabalho, até a faculdade;
Da mesma forma, há alunos que têm problemas para compatibilizar os horários do trabalho com os da faculdade;
Falta de conscientização de que os trabalhos e exercícios solicitados pelos professores devem ser discutidos com o grupo e iniciados o quanto antes, evitando-se o acúmulo com outras disciplinas e as correrias de última hora.
4 – Como você analisa o nível intelectual dos alunos da Sumaré?
Perguntinha difícil, pois o leque é muito grande. Há desde alunos brilhantes, com muita disposição, com bom conhecimento prévio até aqueles que, até pelas fragilidades de nosso sistema educacional (mas também, às vezes, pela falta de sentimento de não conformidade com a sua situação), chegam ao terceiro grau com enormes falhas em sua formação.
Há aqueles que, apesar de estarem há muito tempo longe dos bancos escolares, têm enorme interesse em recuperar o tempo perdido, mas há também os alunos que usam isso como desculpa para suas próprias deficiências, definindo-se como "vítimas indefesas do sistema" e nada fazendo para superar essas dificuldades.
5 – Em meio a tanta modernização nos meios de comunicação, como você vê o jovem e as suas perspectivas de vida?
Os meios de comunicação, como outras áreas do conhecimento humano, evoluíram desde sempre. O que complica as coisas nos dias de hoje, é que a velocidade das mudanças é cada vez maior. Isso obriga a todos nós, e principalmente aos jovens, a uma constante renovação, a uma permanente atualização de seus conhecimentos.
Há dez ou quinze anos atrás, computador era coisa para poucos, caro e, portanto de difícil acesso. Há quinze anos, a internet era praticamente desconhecida. Hoje, no entanto, com a evolução das tecnologias da informação e da comunicação, com o barateamento espantoso dos computadores (ainda hoje são caros, mas já foram muito e muito mais...), aumenta-se gradualmente o número de pessoas ditas incluídas digitalmente. Com cerca de R$750,00 a R$800,00, já é possível adquirir-se um netbook que atenda perfeitamente às nossas necessidades de uso dos softwares mais comuns, acesso à internet, etc... Isso era totalmente inimaginável há bem pouco tempo.
A tendência é que cada vez mais, ao mesmo tempo que as capacidades dos equipamentos de informática aumentem tremendamente, os preços continuem caindo, o que permite que parcelas maiores da população sejam atingidas pelos benefícios trazidos pela Era da Informação.
A minha percepção sobre as perspectivas de vida de nossos jovens, portanto, é bastante otimista.
6 – Como, ou quais os meios que o pedagogo pode utilizar para fazer uso da informática em sala de aula?
A informática é sempre foi e sempre deverá ser apenas um instrumento para melhor desempenharmos nossas atividades, em qualquer área.
Na Pedagogia, isso não é diferente. Há incontáveis atividades a serem desenvolvidas em sala de aula com o auxílio do computador, principalmente na pesquisa e registro de inúmeros temas, bem como na tabulação e apresentação dos resultados dessa pesquisa.
A professora Sanmya Feitosa Tayra, Mestre em Educação pela PUC/SP, lançou três livros (Editora Érica) muito interessantes, chamados de Projetos em Sala de Aula. Há um para o Word, um para o PowerPoint e outro para o Excel. O objetivo destes livros é justamente "proporcionar a utilização deste programa para as atividades educacionais desenvolvidas em qualquer ambiente escolar do terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental".
7 – Quais as dificuldades de relacionamento do professor para com o aluno?
Há aqui apenas dois problemas: o professor e os alunos... Aliás, como em qualquer relacionamento humano (principalmente nos que exigem um contato longo e contínuo, como nas salas de aula), o problema é apenas... o relacionamento...
Há professores que conseguem estabelecer uma empatia com seus alunos, de forma a criar um ambiente positivo. Há outros que são de temperamento mais fechado, mais tímidos.
Os longos anos de experiência que tenho como professor me ensinaram que mesmo aqueles melhores professores, com mais conhecimento, com mais didática, facilidade de interação com a sua classe, mesmo aquele que toda a classe adora, isso não é atingido com toda a turma. Por melhor que seja o professor, que ele não se iluda: há sempre um ou dois alunos que não "vão com a cara dele", pelos mais variados motivos.
Se o professor consegue identificar esses alunos, melhor, pois poderão ser adotadas medidas que visam mitigar possíveis futuros problemas. Quando, no entanto o professor não consegue identificá-los, pode ter surpresas desagradáveis no decorrer das aulas.
Como em qualquer outra área de atividade, há também entre os professores os bons e os maus profissionais. Há os que conhecem profundamente o conteúdo a ser transmitido e aqueles que fingem que o conhecem. Há aqueles que, além de conhecer, possuem didática excepcional, bem como aqueles que, apesar de todo o conhecimento, não têm a menor idéia do que seja didática... Há os simpáticos e os antipáticos, os humildes e os orgulhosos, e por aí afora.
Todas essas qualidades, e muitas outras, ajudam ou atrapalham o relacionamento com a classe.
Pelo lado do aluno, a situação pode ser ainda pior, uma vez que as classes não naturalmente heterogêneas, com todos os tipos de alunos (os bons e os maus, etc...).
Há até uma antiga piada, muito corrente entre os professores, a qual diz que os alunos dividem os professores em dois grupos: os Bons (aqueles que aprovam seus alunos) e os Maus (aqueles que os reprovam)...
Um problema de relacionamento que, pela minha experiência, vem crescendo bastante, é a falta de respeito para com o professor. Alguns alunos (ainda bem poucos, mas... ) acreditam que têm todo o direito de dizer o que pensam (e muitas vezes, sem pensar), de maneira deselegante e mal educada.
A meu ver, há dois motivos principais para que isso aconteça:
Pais que nunca souberam dizer "não" a seus filhos. Ou que não quiseram, pois colocar regras, mostrar limites, ensinar que se deve respeitar seus semelhantes, dá muito trabalho. É muito mais fácil deixar a criança (às vezes não tão criança), fazer o que bem quer;
A falta de disciplina reinante atualmente em um grande número de escolas de ensino básico e fundamental (o que só agrava o problema que já vem dos pais).
8 – Como lidar com isso em sala de aula?
 Na minha opinião, o ponto fundamental é que o professor, em qualquer circunstância, respeite o aluno, para que possa exigir ser respeitado. Em segundo lugar, deve mostrar à classe, logo nas primeiras aulas, que também na sala de aula, como em qualquer outro ambiente de relacionamento, há regras para todos, as quais devem ser respeitadas por todos (inclusive pelo professor).
Tenho usado, nos últimos semestres, um conjunto de slides que chamei de Regras do Jogo. Esses slides são apresentados e discutidos logo na primeira aula. Os slides dessa apresentação são disponibilizados aos alunos, e os resultados têm sido bons.
9 – Que conselho gostaria de passar para os futuros pedagogos?
A vocês, ainda alunos, mas logo, logo, colegas, eu diria o seguinte: nenhum profissional, de qualquer área, será digno de exercer a profissão escolhida, caso se contente apenas com os ensinamentos transmitidos pelos professores em sala de aula.
Desculpem a franqueza, mas caso um estudante do terceiro grau, de qualquer curso de nível superior considere que o que ele ouviu em sala de aula durante o seu curso será suficiente para o exercício da profissão, a tendência é que ele seja apenas um profissional medíocre.
A melhor função de um professor do terceiro grau, além de passar o seu conhecimento, a sua experiência, é apontar caminhos e despertar a curiosidade em seus alunos.
Portanto, estudem, pesquisem, sejam curiosos.

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